terça-feira, 5 de outubro de 2010

Texto explicativo sobre o "submundo" do Flamengo...


A Quadrilha que derrubou Zico

Os delinqüentes que afastaram ZICO do comando do futebol rubro-negro — e com isso enterraram o único projeto sério, em trinta anos, de fazer do Flamengo um clube moderno e vencedor —, são gente com nome e sobrenome, e com dois temores muito claros.O primeiro, de mais longo prazo, o medo do projeto do ZICO e de todo rubro-negro de bem de dar autonomia estatutária ao futebol. Implementado, tiraria o futebol das mãos incompetentes dos que, ao longo dos anos, não fizeram mais que locupletar-se às custas de nossa maior paixão, enquanto o Flamengo caminhava a passos largos para a irrelevância.

O segundo, muito mais imediato, o pânico à limpeza que ZICO vinha promovendo nas divisões de base, cortando as asas de empresários nefastos e de seus agentes internos — verdadeiros quinta-colunas, interessados muito menos na máxima em desuso de que “craque o Flamengo faz em casa”, e muito mais na regra vigente de que craque o Flamengo vende cedo, a preço camarada, para desfrute máximo de seus cartolas e benefício nenhum para clube e torcida.Do primeiro temor trataremos oportunamente, eis que a discussão aí é muito mais filosófica, e tem a ver com a definição de quem é o dono do Flamengo, 5 mil sócios ou 40 milhões de torcedores. Basta, por ora, registrar a declaração ouvida há pouco nos corredores do clube, em apoio aos que apunhalaram o ZICO pelas costas:

“O Flamengo é dos sócios, será gerido pelos sócios, para os sócios e em benefício dos sócios.

A torcida que se foda. Se os sócios decidirem que o futebol ficará em segundo plano, assim será feito.”

O segundo, no entanto, é o cerne da disputa que terminou com a recente demissão de nosso ídolo maior, num processo de fritura e intimidação que envolveu até ameaças de morte ao ZICO e a sua família. Dele participaram ou beneficiaram-se diretamente os senhores Hélio Ferraz, Leonardo Rabelo, Michel Levi, George Helal, Walter Oaquim e Leonardo Ribeiro. Nele permaneceu omissa, qual Pôncio Pilatos, a senhora Patrícia Amorim, que não teve a retidão e o caráter suficientes para escolher entre ZICO e a canalha que a elegeu. É justa e santa a ira contra o sr. Leonardo Ribeiro, mas o repugnante Capitão Leo — escroque conhecido e de vasto prontuário — é apenas o elemento mais visível de uma quadrilha chefiada e integrada por gente muito mais graúda. Com capacidades e talentos reconhecidamente modestos, limita-se a intimidar, com seus camisas pardas, os que ousarem erguer a voz contra o esquema de pilhagem dos cofres rubro-negros, comandado hoje por Hélio Ferraz e Leo Rabelo. Também põe a serviço da quadrilha os conhecimentos contábeis que aprendeu com o ilibado Eduardo Vianna, na FERJ, aonde chegou apadrinhado por ninguém menos que Edmundo dos Santos Silva.

O verdadeiro capo mafioso, aqui, é Hélio Ferraz. Trata-se do mesmo incompetente de passagem absolutamente esquecível pela presidência do clube, logo após a débâcle de Edmundo dos Santos Silva. Os tempos duros, e a conseqüente redução das expectativas da torcida, permitiram a Helinho passar incólume pela presidência, sem chamar muita atenção para sua incompetência.Mas já era o mesmo Helinho que faliu um estaleiro, no começo dos 90, e que poucos anos antes despertara a nossa vergonha alheia com uma campanha absolutamente pueril para o Senado. O mesmo Helinho cujos escassos conhecimentos futebolísticos lhe permitiram dizer, com a cara mais séria do mundo, que seu grande ídolo no
esporte era Marcelinho Carioca!

Pois foi Hélio Ferraz o avalista político da eleição de Patrícia Amorim. Foi Helinho quem lhe deu viabilidade política ao amarrar o rabo da ex-nadadora ao do empresário Leo Rabelo. Rabelo era o dono das divisões de base do Flamengo à época de Edmundo dos Santos Silva, quando contava com o pleno aval dos senhores George Helal e Walter Oaquim. Apadrinhado pelos dois, continuou locupletando-se no mandato do Sr. Hélio Ferraz, mas subitamente viu sua influência reduzir-se quando os dois caíram em desfavor, com a eleição de Márcio Braga. Saudosos de tempos mais gordos, Helinho, Rabelo, Helal e Oaquim viram na inconsistente Patrícia Amorim — sem conhecimento nem interesse algum no futebol — sua oportunidade de ouro para voltar a prosperar às custas do Flamengo. Asseguraram-se, para isso, de controlar, além da presidenta decorativa, o Conselho Fiscal do clube, onde puseram ninguém menos que o sr. Leonardo Ribeiro. (Esqueçam a conversa mole de que o Capitão Leo é oposição, uma vez que o cargo seria tradicionalmente da oposição: Leonardo Ribeiro há anos é assessor parlamentar e camisa parda de Patrícia Amorim na Câmara de Vereadores do Rio.)

Sob o comando dessa gente, as divisões de base passaram a ser nada mais do que uma vitrine onde o Sr. Leo Rabelo expunha seus produtos. Aí passaram a envergar o Manto Sagrado garotos sem nenhum vínculo empregatício ou federativo com o clube, atletas que tinham 100% do seu passe atrelado exclusivamente a Leo Rabelo e empresários amigos, e por cuja venda o clube não auferia um único centavo de benefício. Mais do que nunca e mais do que ninguém, os moralistas de palanque que bradam contra a “privatização” do futebol rubro-negro, que não reconhecem limites éticos ou legais na luta contra a autonomia do futebol, efetuaram sua própria privatização do setor mais estratégico do clube.

Os interesses da quadrilha não se limitam às divisões de base. Envolvem também os negócios
escusos em torno dos ingressos, em parceria com a BWA. O esquema é o responsável pelo prodígio de os ingressos para jogos do Flamengo custarem, em média, R$ 15,00 a mais do que os dos rivais. Supervisa o esquema o sr. Eduardo Moraes, que atende por Vassoura e coincidentemente é genro do onipresente Hélio Ferraz. Mas quem efetivamente ordenhava essa vaca leiteira, até recentemente, era o Sr. Flávio Pereira, que até hoje desfruta injustamente do anonimato. Injustamente porque se trata de ninguém menos que o dirigente acusado de pedofilia, de corromper meninos das divisões de base (sempre as divisões de base!), flagrado por sócia do clube, em fevereiro, “acariciando ostensivamente o órgão sexual de um menino de dez anos”. Uma acusação decerto revoltante, mas incapaz de embrulhar o estômago da Srª Patrícia Amorim, em que pese o fato de nossa presidenta também ser mãe: a pedido de Helinho, Flávio Pereira continuou ocupando o cargo lucrativo para o qual fora nomeado, e somente foi exonerado quando o clamor público ameaçou tornar-se insuportável.

Foi esse o cenário com o qual o ZICO se deparou ao assumir o futebol rubro-negro, em 30 de

maio passado, com projetos de autonomia e seriedade administrativa. Sua nomeação foi um gesto desesperado de uma presidenta acuada politicamente, que via sua gestão fazer água menos de seis meses depois de começar. O técnico Andrade e o vice de futebol, Marcos Braz — a dupla que, com mais acertos que erros, havia conquistado o hexacampeonato —, haviam sido demitidos em 23 de abril, depois de o time se classificar aos trancos e barrancos para a segunda fase da Libertadores. Com o time eliminado, em seguida, pela Universidade do Chile,

Patrícia Amorim passou a temer o desfecho inglório do impeachment, nas mãos de uma oposição que começava a se estruturar e de aliados para quem a utilidade da presidenta se esgotara no momento mesmo em que lhes abriu os cofres da Gávea.

Assim foi que o Galinho voltou para casa cheio de ilusões e projetos ambiciosos, que exigiriam o apoio decidido da presidenta para concretizar-se. Para Patrícia, no entanto, ZICO era apenas uma cartada política de curto prazo, um gesto que daria tempo e fôlego a sua gestão inepta, um fusível a ser queimado na primeira oportunidade, quando a destruição do ídolo e mito lhe fosse politicamente conveniente.

Os primeiros atos de ZICO voltaram-se, justamente, para a moralização das divisões de base. Com a autoridade que ainda não fora minada por Patrícia Amorim, o Galinho pôs fim à farra de Leo Rabelo, da qual se beneficiava a máfia aqui identificada. Pôs no olho da rua todos os atletas que envergavam o Manto Sagrado sem vínculo federativo com o clube, atletas ali postos, como numa vitrine, por seu proprietário, Leo Rabelo, para valorizar-se e ser vendidos. Subitamente, nas divisões de base do Flamengo, deu-se essa coisa prodigiosa: só jogavam atletas do Flamengo, e a máfia comandada por Hélio Ferraz perdia ali seu negócio mais promissor.

Ato contínuo, a quadrilha passou a obstaculizar a gestão de ZICO de todos os modos, legais e
ilegais, a seu alcance. Mobilizou, sobretudo, o vice-presidente financeiro, Michel Levi, e o presidente do Conselho Fiscal, Leonardo Ribeiro, que passaram a entravar toda e qualquer contratação encaminhada por Zico. Diogo e David, contactados muito antes, só puderam ser legalizados na véspera de expirar-se o prazo final, imposto pela CBF. ZICO reagiu, assinalando o óbvio: que um clube de futebol que pretenda ser exitoso não pode funcionar nessas bases, e o departamento de futebol precisa de autonomia administrativa e financeira. Foi a gota d’água para a
quadrilha:declarou-se guerra aberta a ZICO. Começaram a circular boatos infundados, jamais comprovados, sobre a atuação de seus filhos em contratações, prontamente reproduzidos por canalhas menores da imprensa."

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