quinta-feira, 25 de outubro de 2012

E da série "somos uma Nação" ...



Torcida do Fla também é a maior em Brasília, Goiânia e Vitória




A pesquisa Ipsos Marplan sobre as torcidas brasileiras – Parte III


seg, 22/10/12


por Emerson Gonçalves |



Essa terceira parte do post sobre a pesquisa Ipsos Marplan traz informações igualmente interessantes, agora de uma forma um pouco mais simples, detalhando a estratificação de cada uma das torcidas e, satisfazendo a inúmeros pedidos, mostrando a participação de cada clube em cada praça e também o quanto cada uma das praças representou em relação ao trabalho, tanto em números absolutos como proporcionais.

Talvez tivesse sido o caso de começar o trabalho pelo seu final, para evitar uma parte dos comentários que colocaram em dúvida a pesquisa, seus números, o instituto que a realizou e esse blogueiro. Tabelas e gráficos precisam ser lidos e interpretados depois da leitura do texto que os acompanham, para evitar interpretações equivocadas.

A primeira tabela mostra a composição de cada torcida, nessa pesquisa (atenção, senhores críticos: nessa pesquisa), de acordo com o sexo e com a classe sócio-econômica dos entrevistados. De acordo com o Censo 2010, temos no Brasil uma proporção de sexo da ordem de 96 homens para 100 mulheres, que vem a resultar em uma participação percentual de 49% de homens e 51% de mulheres. Ora, essa mesma proporção deveria manifestar-se em quaisquer agrupamentos sociais, inclusive torcidas de futebol, reproduzindo, basicamente, a composição populacional. Isso,naturalmente, não ocorre em muitos casos em função de diferenças sociais e culturais, e o futebol é um bom exemplo. Apesar de algumas leitoras discordarem, a presença masculina é maior e mais consistente, o que leva a vermos com absoluta naturalidade uma maior participação masculina nas torcidas. 

Vejam a tabela:


 


A amostra total de torcedores é dividida em 54% de homens e 46% de mulheres. Quando observamos a composição dos torcedores corintianos, encontramos uma divisão quase invertida: 48% de homens para 52% de mulheres. Esse é o ponto que levantei na primeira parte desse post, levantando a hipótese dessa discrepância ter provocado um impacto mais forte que o normal na totalização de torcedores do time.

Ah, então a pesquisa está mesmo errada! – já escuto gente gritando. Não, não está errada. Além de considerarmos as margens de erro, temos que levar em consideração que uma mensuração mais precisa dá-se no desenrolar de alguns anos e várias pesquisas. Há alguns outros valores muito discrepantes, muito mais que os do Corinthians, mas eles foram obtidos sobre amostras significativamente menores e em sua maioria sobre o percentual de homens, mas, tal como nesse caso, também são desvios ocasionais. Numa

A tabela seguinte traz a divisão de cada torcida por faixa etária. Dois pontos chamam a atenção: a forte presença de jovens nas três maiores torcidas e o mesmo fato em torcidas regionais, como no caso do Sport, do Fortaleza e Ceará, Cruzeiro e (em menor escala) Atlético Mineiro e do Atlético Paranaense e Coritiba. São valores significativos, como mostra o exemplo cearente, com 46% dos jovens de 10 a 17 anos torcendo para os times locais. É um evento interessante, pois ao mesmo tempo, no correr dos anos, observamos uma maior nacionalização das três maiores torcidas.


 

Reparem que a tabela mostra uma certa equalização nas duas faixas seguintes, com destaque para o Sport entre os torcedores de 18 a 24 anos de idade. Na outra ponta da tabela, com os torcedores mais idosos, uma certa diferenciação para Santos, Botafogo, Fluminense, Vasco e Náutico. Provavelmente, uma nova pesquisa nos mesmos locais em três ou quatro anos deverá mostrar números diferentes para esses times, principalmente o Santos, em função dos resultados dos últimos anos e do fator Neymar, o grande diferencial do time.




A divisão por praças

Embora seja inútil, vou recomendar um ponto essencial para ler e entender essa tabela: reparem, atentamente, em três pontos:

1 – ela mostra o universo total de pessoas das 13 praças e não somente o universo de torcedores;

2 – olhem os números absolutos de cada uma, ou seja, quantas pessoas vivem em cada uma dessas praças; lembrem que a praça “Interior Paulista” é formada por somente sete municípios e que todas as demais, exceto Brasília, são Regiões Metropolitanas, e não somente o município sede da RM;

3 – observem agora o peso, a proporção da população de cada praça sobre o total de habitantes; essa mesma proporção foi seguida nas entrevistas.

 

Os resultados finais tão contestados, mostrados na Parte I, saíram daqui. Os municípios da RM de São Paulo entraram com 14,6 milhões de pessoas no cálculo (a pesquisa não coletou dados em toda a RM, cuja população total chegava a 19,7 milhões de habitantes em 2010), o que representou 29% da amostra. Já as sete cidades do interior, com população de 2,6 milhões pelos dados do instituto, representaram 5% do total amostrado. São números perfeitamente razoáveis considerando que a pesquisa objetivou ter uma visão do torcedor de futebol nas 13 maiores áreas em potencial de consumo.

Há praças com forte predominância rubronegra, como Vitória, com 41%, mas a participação de Vitória no conjunto de praças é de 3%. Portanto, essa presença maciça fica diluída, enquanto é fundamental no Rio de Janeiro, onde os 48% de preferência pelo Flamengo impactam uma região com 19% de participação no conjunto.




Pesquisa é um retrato da realidade, mas está mais para uma fotografia do que para um fotograma ou um frame de vídeo. Uma única pesquisa pode ser influenciada por um, dois ou mais fatores, que se não chegam a invalidar seus resultados, podem provocar distorções em alguns. Por isso mesmo, sempre se considera um período mais amplo e um maior número de pesquisas para se conhecer uma dada realidade.

Essa pesquisa mostra um crescimento da torcida corintiana no conjunto dessas áreas, mas isso é algo que precisará ser conferido nos próximos anos, com novas pesquisas. Considerando o país como um todo, a partir da análise de várias outras pesquisas, vemos a liderança do Flamengo, seguido pelo Corinthians, que se aproxima. Portanto, nada de anormal, nada de manipulado, nada de favorecimento ou qualquer outra bobagem. Como já recomendei a muitos leitores, há um grande estoque de pesquisas nesse OCE. Para acessá-las é muito fácil, basta clicar na categoria Pesquisas – Tamanhos de Torcidas, no lado direito do OCE.



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