terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Melhor explicação: impossível...

Leiam esse excelente texto do jornalista Lúcio de Castro e tirem as suas conclusões...

FONTE: www.espn.com.br/luciodecastro/post

Fim de férias: o cinismo de nossos tempos/nunca foi tão difícil voltar...

por Lúcio de Castro


“Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro pra ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura”


                  Fernando Pessoa


Vai ser difícil entrar no ritmo. Foram dias de glória, espetaculares em sua absoluta franciscana simplicidade. Digna da cidade de São Sebastião, que ensina todos os dias não ser preciso muito para ser feliz. Basta a boa resenha, os seus ao lado, “o dia pra vadiar” como já disse o outro e pronto... Todo ano sinto o mesmo quando a tal das férias se acaba. Aquela eterna sensação de que não será mais possível aprender a fazer alguma coisa. A loucura da engrenagem vai fazendo passar aos poucos, e quando vemos, já estamos lá de novo, fazendo um monte de coisas que não valem nada e umas poucas que sim, valem muito, e por isso a banda segue...

Mas esse ano, sei não, a sensação de que será mais difícil retomar a marcha me acompanha desde os últimos dias de férias...Falaremos sobre isso mais abaixo, um cenário cada dia mais áspero na área de atuação, a repetição de um monte de coisa, a velha sensação de que não adianta, os ouvidos preferem não ouvir, os olhos preferem não ver o que está ali tão óbvio... De bom fica pra trás tudo aquilo que falava antes, o sol morrendo diante dos aplausos dos devotos de São Sebastião, o pé pra fora do chinelo na mesa da calçada...

Não fui repórter um segundo sequer nessa jornada de férias, e acho cada vez mais graça na máxima de uns tecnocratinhas que proliferam cada dia mais nas redações e que acham bonito falar nessa “dedicação integral”. Enchem a boca para falar: “Sou repórter 24 horas por dia! Todos os dias do ano”. Ainda que os portfólios pessoais de matérias não mostrem que tamanha dedicação compense tanto assim e que vale ignorar o que realmente importa na vida. Jornalismo tem isso de bom, esse pouco de ciência exata: não adianta o cara bater no peito e se proclamar repórter em tempo integral, essas bobagens. O currículo do cara, as matérias feitas por aí é que vão dizer. Imagina como deve ser chato alguém ser uma coisa 24 horas por dia!

Vai passar em poucos dias essa ressaca da volta, essa nostalgia de dias para sempre. Já vi o filme outras vezes. Mas quando penso que serão mais 11 meses tentando entender por que diabos alguém se nega a enxergar que falar, criticar ou denunciar aquele cartola é defender o seu time e não falar mal, e acima de tudo é o papel do lado de cá do balcão...Quando penso que serão mais 11 meses vendo que apontar o dedo para a sordidez dos manjas é entendido como defesa desse ou daquele, quando penso que serão mais 11 meses achando que meia dúzia de jogos invicto em campeonatinhos meia bomba não querem dizer nada diante de trabalhos ridículos de treinadores e cartolas mesmo que do outro lado esteja uma turma ávida em ser enganada, quando penso que alguns do mundo do esporte continuarão soltos, enfim...Que cansaço que bate...

Que cansaço que bate quando se vê a falta de senso crítico de alguns, responsáveis por transformar em gênios da raça qualquer um que invente duas ou três frases que pareçam modernas. Alimentando as grandes mentiras do esporte, que nunca são inocentes. Será que é tão difícil assim estabelecer algumas conexões, tentar ampliar o campo de visão das coisas no lugar de mistificar, louvar sem questionar?

Nesse momento lembro de Rodrigo Caetano. Um verdadeiro rolo compressor que passou por aqui. A imprensa aos seus pés. Em pouco tempo, duas ou três palavras e conceitos de efeito, e todas as matérias de jornal, que se copiam sem originalidade alguma, louvavam o sujeito como o detentor do segredo de Fátima, o maior revolucionário das linhas de montagem desde que se deu o fordismo. Será? Será que é possível afirmar tudo isso sem estar nos bastidores, nas entranhas de um clube? Não servem aqui os que estão mas perderam (ou nunca tiveram) senso crítico. É isso mesmo?

É essa a revolução da modernidade, do choque de gestão do futebol? O sujeito trabalha em parceria estreita com um empresário. Sai do clube com proposta muito maior, atirando porque o clube está privilegiando um outro empresário (fato, mas e ele?). A crítica é aceita como verdade. Chega no novo clube e no primeiro ato o tal arauto da modernidade e o mesmo empresário que andava com ele do lado de lá já está com a nova camisa e com Tiago Neves a tiracolo. Ganhando muito acima do mercado e do que pode, o que seria inviável em qualquer ambiente de gestão minimamente correta. É essa a tal modernidade, é esse por quem os sinos da imprensa dobram e babam? Como dizia o velho Leonel, (quanta falta faz...), “será que vocês não vêem que estão te enganando”?

Lembro-me sempre das resenhas que tive o prazer na mesa de Geneton Moraes Neto, vulgo Gênioton. Está na tal mesa um cartaz com uma frase-mandamento, de autoria de Joel Silveira, pra todo repórter: "Sempre que entrevistar alguém, repita a pergunta: por que esse cara tá querendo me enganar"?

Não usei o exemplo do “Novo Deus da Gestão do Futebol”, o inventor da luz por algo pessoal. Nada pessoal ou contra. Nem a favor. Apenas um caso exemplar de como somos acríticos. E como as pessoas acreditam. Agora pegue o trecho acima e bote no túnel do tempo, um ano. Vascaínos iriam apedrejar. Hoje irão aplaudir. E tricolores irão apedrejar. Será que não dá pra tirar um pouco desse ranço e tentar ver que estão te enganando? E que se o jornalista vira assessor de marketing de gente do futebol e promove o sujeito a Deus não devia ser tão levado a sério?



Motivos não faltam para algum enfado nessa volta de férias, como se vê. A velha impressão de que as coisas se repetem monotonamente demais, que logo irá passar, já dissemos. Onze anos se passaram da CPI do futebol, quando, diante de congressistas, Vanderlei Luxemburgo foi confrontado com as acusações de Renata Alves, com detalhes, segundo ela, sobre operações do treinador levando comissões de empresários em cima de jogadores.

Na ocasião, o treinador negou peremptoriamente levar comissão de empresários na compra de jogadores. Mesmo quando foi lembrado por congressistas sobre o caso do jogador Arinelson, contratado junto ao Iraty (presidido então por Sérgio Malucelli, sócio do treinador em alguns negócios e agora no Londrina, que acolhe o Flamengo nas pré-temporadas por decisão do treinador) pelo Santos dirigido por ele. Seguiu negando aos congressistas qualquer ligação ou favorecimento por parte de Mauro Morishita, empresário do jogador, assim como negou qualquer relação comercial com tal empresário. Não soube explicar ali no plenário ao ser informado que em sua conta corrente nº 110.209-5 (uma das 30 apontadas na CPI), constava, no dia 9 de abril de 1997, um depósito por parte de Morishita para o treinador. Após a CPI, o caso não foi adiante. Segundo o treinador, como sempre repete, foi inocentado de todas as acusações da CPI. Onze anos depois o treinador segue, pelo segundo ano seguido, levando o seu time para pré-temporadas na casa de Malucelli, em Londrina. Com o aval da diretoria rubro-negra. Independentemente das histórias levantadas pela CPI, ao certo e isso não é negado, Malucelli é sócio de Vanderlei em diversos negócios. Isso impede tal relação? Não. Pelo visto. Mas o Flamengo não devia se preservar? Não é para desanimar?

E 17 anos depois de bater de frente com Romário por este levar uma mulher para a concentração, repete o mesmo com Ronaldinho Gaúcho. Time, esquema que é bom, nada...Corta para entrevista de Paulo Nunes em programa da Rede Globo: “Logo ele, Vanderlei”?!!!! Como dizia o tipo do craque Jô Soares, “você não quer que eu volte”!!!!!

Fui para as férias e Ricardo Teixeira ameaçava Blatter com dossiês. E vice-versa. Alguém apresentou algo ou seguem fingindo esse joquete? Não é para um desanimador recomeço?

João Havelange, depois de vazar do COI, entregando os anéis para não perder os dedos, foi homenageado em almoço de desagravo! E ainda teve seu nome proposto para o Nobel da Paz! O Nobel da Paz! Dá pra voltar animado? (e o pior que sou bobinho mesmo...No fundo, sei que na primeira matéria que pareça dar samba, estarei esquecendo tudo isso...Mas por enquanto tá duro voltar...)

Em espetacular reportagem (mais uma) de Marcelo Auler (não surpreende que um repórter desse quilate e história não esteja atualmente com espaço na grande imprensa), ficamos sabendo que o ex-diretor da PF, Luiz Fernando Correa foi responsabilizado por um superfaturamento de 17,9 milhões nos gastos com equipamentos de segurança do Pan do Rio, em 1987. E não é que o mesmo Luiz Fernando é o diretor de segurança das Olimpíadas do Rio, em 2016?


E ainda falta tanto tempo para as novas férias...
 
 
 

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