Um dos mais notaveis remadores do Rio de Janeiro, campeão em várias oportunidades, dando ao rubro-negro dezenas de troféus. Foi um dos integrantes do trio que fez o percurso Rio-Santos a remo. Entrou como herói na história do clube.
Trecho de um episódio com "Boca Larga"...
TORMENTA
Às 05h30mim de segunda-feira, 18, depois de esperar que o temporal que se abatera na véspera amainasse, Engole Garfo, Angelu e Boca Larga partiram de Ubatuba para Ilhabela, no litoral de São Sebastião, distante 50 milhas. Logo começaram a ser seguidos pelas tintureiras. Segundo Angelu, esta foi a pior fase do “raid”. “Mais do que nunca, precisamos ter calma, sangue-frio e segurança nas remadas. Um vendaval violento atingiu-nos no meio da travessia. A viagem vinha sendo feita em mar alto, a muitas milhas de distância da costa. Qualquer esmorecimento em tal situação seria uma verdadeira desgraça. Desde cedo as tintureiras nos perseguiam, cada vez mais perigosamente. Atirávamos, para afugentá-las, mas, feridas ou não, elas continuavam a nos perseguir, obrigando-nos a toda espécie de cautela. Graças a Deus nada nos aconteceu.”
No caminho, passou por eles o navio Ceará, da Marinha de Guerra, que se dirigia a Santos.“Foi quando experimentamos uma das mais fortes emoções de nossas vidas”, contou Angelu. “Quando ele passou por nós, assistimos a um espetáculo que nos tirou a fala. A oficialidade e os marinheiros vieram para a amurada e nos saudaram ruidosamente. Fomos obrigados a parar de remar, porque a emoção nos sufocou”.
Apesar do péssimo tempo e dos perigos, prosseguiram mais animados até alcançarem Ilhabela, depois de remarem 14h sem interrupção. Mais uma vez, foram recebidos por muita gente e com grande carinho.
A respeito desse trecho, Boca Larga contou um episódio curioso: “Eu ia na patroagem e já estava escurecendo quando vi um rochedo em que o barco devia bater, pois a distância era mínima. Só tive tempo de gritar: Olha o rochedo!!! e torcer o leme. Foi aí que verifiquei uma coisa assombrosa. O rochedo era um enorme tubarão”.
O grito “Olha o rochedo!” foi destaque na imprensa, ganhando manchetes, crônicas e até a divulgação pelos jornais de um poema bem-humorado, feito pelo próprio Boca Larga:
O grito “Olha o rochedo!” foi destaque na imprensa, ganhando manchetes, crônicas e até a divulgação pelos jornais de um poema bem-humorado, feito pelo próprio Boca Larga:
OLHA O ROCHEDO!!!
Vinha a iole navegando
Perto de S. Sebastião
E nós três a palestrar
Na melhor disposição
Falamos das namoradas
Recordando as despedidas
Os abraços, os adeuses
Das pessoas mais queridas
A certa altura, na noite,
Na mais densa escuridão
Eu senti gelado o sangue
E parado o coração
É que eu via em nossa frente
Um vulto, uma coisa estranha
A emergir do fundo d’água
Qual se fora uma montanha
Vi a morte a nossos pés!
O perigo era iminente
Fiz um esforço supremo
E dei um grito estridente:
- Olha o rochedo, rapazes!!!
E, num ímpeto indizível,
Desviamos a “Flamengo”
Do “Pão de Açúcar” terrível.
Qual não foi o nosso espanto,
Parada a respiração,
Ao vermos que o tal” rochedo”
Era um bruto tubarão.
O monstro, que dormitava,
Com o meu grito despertou.
Bocejou, pediu desculpas,
Disse adeus...e se afastou.
Sentimos um calafrio
Por toda a espinha dorsal- Oh!
Tu...Barão de Munchausen!
Nunca viste peixe igual!
Mas, independente do humor, o perigo era real. As autoridades navais diariamente expressavam aos jornais seus temores diante dos riscos que os remadores corriam. Entre a Ponta de Juatinga e São Sebastião, especialmente, o mar era traiçoeiro, palco de muitos desastres navais. Havia grandes trechos sem praias, só costões, sem falar nos tubarões. Além do mais, eles não tinham nenhum meio de contato com a terra. Se algo lhes acontecesse, não teriam como ser localizados, nem socorridos. Após o raid, Angelú confessaria: “Muitas vezes, julguei impossível que saíssemos vivos da aventura. Estivemos dentro da boca da morte
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