Mais um texto excelente a respeito do assunto sobre jogar no maracanã...

Os lucros do Consórcio Maracanã

categoria Marketing por Vinicius Paiva 

Não é de hoje que se debate a viabilidade do modelo privado na administração das novas arenas. A discussão ganha corpo no Rio de Janeiro por conta da relação tempestuosa que se molda entre o Consórcio Maracanã e alguns clubes – especificamente o Flamengo. Argumenta-se que a gestão é falha, o torcedor mal tratado e a arrecadação desproporcional à falta de contrapartidas oferecidas aos verdadeiros donos do espetáculo.

O acirramento das tensões surge como resultado da falta de estabilidade política do país. O edital de concessão, vencido pelo conglomerado Odebrecth-IMX-AEG, contemplava o pagamento de mais de R$ 5 milhões anuais, além de investimentos na ordem de R$ 600 milhões no entorno do complexo. Abortando a ideia de demolir o parque aquático Julio Delamare e o estádio de atletismo Célio de Barros (que seriam reconstruídos pelo Consórcio), o governador Sergio Cabral cedia à opinião pública ao mesmo tempo em que rasgava contratos. Assim, intensificou-se a cruzada contra o Consórcio pela falta de um projeto de reinvestimento dos lucros já usufruídos.

Com base nos boletins financeiros do site da CBF, o Blog Teoria dos Jogos fez um levantamento de quanto arrecadou o Consórcio Maracanã ao longo dos primeiros quarenta dias de administração. Os números – que não contemplam receitas de bares, camarotes e placas publicitárias – apontam para as razões do descontentamento rubro-negro:

BRASILEIRÃO

8ª rodada – Fluminense 1 x 3 Vasco da Gama. Arrecadação do Consórcio: R$ 291.484,33

9ª rodada – Flamengo 1 x 1 Botafogo. Arrecadação do Consórcio: R$ 1.081.568,41*

10ª rodada – Fluminense 1 x 0 Cruzeiro. Arrecadação do Consórcio: R$ 21.601,53

10ª rodada – Botafogo 2 x 0 Vitória. Arrecadação do Consórcio: R$ 174.044,68*

11ª rodada – Vasco 2 x 3 Botafogo. Arrecadação do Consórcio: R$ 296.301,79*

13ª rodada – Fluminense 2 x 3 Flamengo. Arrecadação do Consórcio: R$ 679.113,44

14ª rodada – Fluminense 0 x 0 Corinthians. Arrecadação do Consórcio: R$ 94.061,16

14ª rodada – Botafogo 3 x 3 Internacional. Arrecadação do Consórcio: R$ 59.443,26

COPA DO BRASIL

Oitavas-de-final – Fluminense 1 x 0 Goiás. Arrecadação do Consórcio: R$ 43.491,54

Oitavas-de-final – Botafogo 4 x 2 Atlético-MG. Arrecadação do Consórcio: R$ 86.860,33

Oitavas-de-final – Flamengo 1 x 0 Cruzeiro. Arrecadação do Consórcio: R$ 734.623,15*

Arrecadação total do Consórcio: R$ 3.562.593,62

*Jogos com compartilhamento dos custos operacionais do estádio.

 ****

Total de jogos:  11

Fluminense como mandante: 5 jogos (45%)

Botafogo como mandante: 3 jogos (27%)

Flamengo como mandante: 2 jogos (18%)

Vasco como mandante: 1 jogo (9%)

 ****

Arrecadação total em jogos do Fluminense: R$ 1.129.752,00 (32%)

Arrecadação total em jogos do Botafogo: R$ 320.348,27 (9%)

Arrecadação total em jogos do Flamengo: R$ 1.816.191,56 (51%)

Arrecadação total em jogos do Vasco: R$ 296.301,79 (8%)

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Arrecadação média em jogos do Fluminense: R$ 225.950,40

Arrecadação média em jogos do Botafogo: R$ 106.782,75

Arrecadação média em jogos do Flamengo: R$ 908.095,78

Arrecadação média em jogos do Vasco: R$ 296.301,79

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Mesmo sendo o segundo time que menos mandou jogos no Maracanã, o Flamengo é de longe o que mais gerou recursos para o Consórcio. Seus dois jogos (apenas 18% do total) proporcionaram 51% das receitas. A arrecadação média do Consórcio através do Rubro-Negro é ainda mais discrepante: R$ 900 mil por jogo, o triplo do Vasco, quatro vezes superior ao Fluminense e quase seis vezes mais que o Botafogo.

Para o Consórcio, jogos do Flamengo são vantajosos por compartilharem custos operacionais – que variam de R$ 125 mil (jogos de pequeno porte) a R$ 385 mil (grande porte). Nestes casos, arrecadação positiva significa lucro. O que não aconteceu em pelo menos três jogos do Fluminense e dois do Botafogo, quando os repasses foram inferiores a R$ 100 mil. Tais jogos possivelmente tenham dado prejuízo ao Consórcio.

A queda-de-braço está longe do fim. A importância do Flamengo para o Consórcio aumenta seu poder de barganha, pois se o clube lucra mais que os rivais, custeia o Consórcio em níveis desproporcionais. Sendo assim, há margem para redução dos custos arcados por ele. Mas é bom ter claro que o “compartilhamento de lucros” foi estabelecido de comum acordo e tem contrato em vigor – embora apenas até o fim do ano. Conversas e negociações continuam sendo a solução em tempos de aprendizado quanto à nova condição do “Maior do Mundo”.

Um grande abraço e saudações!

E-mail da coluna: teoriadosjogos@globo.com