quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Charanga do Flamengo



A Charanga do Jaime
18/10/2006

Bernardo Mello Franco *


Jaime, De Bigode, e Laura no Maracanã

Charanga, no dicionário, é sinônimo de "conjunto musical desafinado e barulhento". Foi assim que o rubro-negro Ary Barroso batizou, em 1942, uma bandinha que acompanhava os jogos do Flamengo. Em vez de ofender-se, o fundador Jaime de Carvalho resolveu adotar o nome. No ano em que o clube começava a conquistar seu primeiro tricampeonato estadual (1942-44), nascia a pioneira das torcidas organizadas do Brasil. Mais de 60 anos depois, o grupo sobrevive graças ao empenho de seus integrantes em manter viva a tradição de apoio ao time.
Desde que chegou ao Rio de ita, em 1927, o baiano Jaime dedicou sua vida ao Flamengo. Na semana do Fla-Flu que decidiu o título de 42, reuniu família e amigos para uma inusitada "invasão" do Estádio das Laranjeiras. Naquele tempo, a torcida gritava quando o time atacava e emudecia quando os adversários recuperavam a bola. Tocando as músicas de incentivo sem parar, a Charanga mudou para sempre o ambiente dos jogos de futebol no país.
Era a própria mulher de Jaime, dona Laura, quem costurava as faixas e bandeiras da torcida. Partindo de vinte integrantes, o grupo cresceu e fez história, inspirando a criação de inúmeras "charangas" pelo país nas décadas de quarenta e cinqüenta. Nelas, era proibido gritar ofensas e palavrões contra os jogadores - só valia torcer a favor.
Depois da morte do marido, em 1976, dona Laura assumiu a liderança da Charanga. Na mesma época, começaram a crescer as torcidas organizadas "modernas", como a Raça Rubro-Negra e a Torcida Jovem, que adotaram a rivalidade violenta e passaram a influenciar na política no clube. Os estádios, antes seguros, passaram a abrigar cenas de guerra entre facções rivais, muitas vezes do mesmo time. Como reflexo dos novos tempos, a Charanga foi obrigada a se transferir da arquibancada para as cadeiras do anel inferior do Maracanã, freqüentado por idosos, crianças e turistas.
Hoje, com dona Laura doente e sem forças para comandar a torcida, a Charanga se reduz a uma banda de oito músicos aposentados, tão desafinados quanto os do tempo de Jaime de Carvalho. Liderados por Grimário Batista do Nascimento, o Seu Guigui, eles tocam nos jogos de futebol e nas finais dos esportes amadores.
- Quando o Flamengo não chama, cada um faz seu bico em bandas de música, como a da Guarda Municipal - conta o músico de 57 anos, aparentando mais, em fala lenta e pausada.


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