Uma Nação chamada Flamengo ...: Carta aberta ...

domingo, 21 de agosto de 2011

Carta aberta ...

por Alexandre Fernandes

Esse texto não tem imagens nem formatação tradicional. Trata-se de uma carta aberta para um grande rubro-negro, hoje carregando o peso cármico de uma derrota inusitada e inesperada. Portanto, é em homenagem a ele e a todos os rubro-negros que acordaram com essa sensação.

Pensando nos seus e-mails antes do jogo, foi impossível não relacionar o desastre com as suas cismas.

Respeito o direito individual de quem quer que seja e por essa razão respeitarei a sua decisão, mesmo discordando dela.

Foi somente uma derrota, o problema reside na falta de costume. Esse campeonato está aberto, absolutamente indefinido, com a metade incompleta. E lá estamos em segundo lugar, concorrentes sérios, temidos, com a faixa do Hexa no peito e uma história de vitórias a pressionar os demais concorrentes. Seria praticamente impossível, numa competição tão longa e parelha, chegarmos à 38ª rodada invictos. Melhor perder com tal impacto agora do que perder na penúltima rodada e dar adeus ao título. Reafirmo a minha campanha: QUERO SER LÍDER NA 38ª RODADA.

O Flamengo mexe conosco de uma forma muito especial, transcendental até. Só nós sabemos o que é isso.

A vida inteira tive minhas mandingas rubro-negras. Todos nós as temos, mesmo sem saber ou entender isso.

Na segunda-feira, caiu e quebrou o meu chaveiro rubro-negro, presente de um grande rubro-negro que já se foi, uma pessoa muito querida. Fiquei desesperado e não sosseguei enquanto não comprei outro, embora não encontrasse um exatamente igual. Se já estava preocupado com esse jogo, fiquei mais.

Mas, é evidente, inexiste essa conspiração que já me levou a vestir sempre a mesma camisa e cueca em TODOS os jogos do Flamengo. Quem arregaçava os adversários era o time do Zico e Cia. Mas eu precisava me considerar partícipe de alguma maneira e os patuás pessoais eram mais fortes que a minha consciência. Vi muito mais vitórias do que derrotas. Tragédia, então, foram bem poucas. Entretanto, temos a mania de chamar a responsabilidade para algo que fizemos ou não fizemos, atraindo como um ímã de catarses as razões pelos insucessos. Vencemos a maioria das vezes porque somos melhores, porque a Magnética sempre pesa a nosso favor, porque eles temem a nossa força. Enfim, porque sucumbem diante da Magia Rubro-Negra ao terem o Manto Sagrado pela frente, por misturarem ódio com temor e acabarem se confundindo, ainda que estejam em situação de vantagem.

Anteontem fui dormir com o Atlético Mineiro vencendo os gambás por 2 x 0 e acordei no meio da madrugada com a TV ligada e o VT terminando com a comemoração da CT corintiana. Também julguei ser um mau presságio. Quando a bola rolou ontem no Engenhão senti não ser nosso dia.

Embora o inconsciente coletivo seja forte e emane fluídos cuja dimensão sequer noção temos, isso não funciona de forma isolada. Se as palavras, ou o verbo como preferem os profetas e pregadores, têm força, o pensamento concebe mais do que imaginamos. Mas isso vem de uma enorme redoma e não de um pequeno guarda-chuva. Somos muito pequenos sozinhos e enormes todos juntos.

O Flamengo precisa de nosso apoio, isso nos moverá eternamente, mesmo após a nossa passagem para outro plano. Lá, não sei se há um Flamengo poderoso, constituído de todos os grandes que já partiram, numa seleção de talento incomparável. Sei que poderemos, com certeza, desfrutar de todos os jogos, os do momento, os do passado e os do futuro, sem termos informação sobre o resultado. Apenas para saborearmos com mais prazer os gols do Valido, do Dida, do Babá, do Silva, do César, do Geraldo, do Zico, do R10 e de todos os que ainda virão. Será o preço celeste para ingressarmos em cada partida. E, nas que já tiverem sido jogadas, não saberemos o resultado e ainda assim teremos certeza de que um chaveiro, uma camisa, uma cueca ou tão somente a nossa presença influenciaram no placar.
E cultivaremos as dúvidas de quem ama tanto que às vezes nem consegue enxergar.

O amor pelo Flamengo é desse jeito.

Inexplicável, indecifrável, incorrigível, inimaginável.