sexta-feira, 6 de julho de 2007

Essa dupla era espetacular...

Tempo em que ser radialista era coisa séria, isenta e apaixonante...







Waldir Amaral



Jornalista, radialista e locutor esportivo brasileiro nascido em Goiânia, Estado de Goiás, um dos criadores do que se convencionou chamar de futebol-show, no qual as transmissões radiofônicas tentam “mostrar” o jogo para o ouvinte e que ficou famoso pelos bordões que criou durante as narrações de futebol, como Indivíduo competente, O relóóógio maarcaaa e Tem peixe na rede e e criou também apelidos que acompanharam para sempre alguns jogadores, como Galinho de Quintino, para o jogador Zico. Iniciou sua carreira em Goiânia na rádio Clube e mudou-se para o Rio de Janeiro e conseguiu emprego como locutor comercial na Rádio Tupi (1948). Teve a sua primeira chance no jornalismo esportivo na Rádio Mauá, como auxiliar na equipe de Jayme Moreira Filho, mas foi na rádio na Continental, onde se integrou à equipe de Gagliano Neto, que narrou seu primeiro jogo. Passou por outras emissoras como Mayrink Veiga e Nacional e até mesmo pela televisão, mas firmou o seu nome na radiofonia esportiva na Rádio Globo (1961-1983). Na Rádio Globo exerceu, além da função de narrador, a chefia do departamento de Esportes e formou o top do rádio esportivo com nomes como Jorge Curi, João Saldanha e Mário Vianna entre outros. Em 40 anos de profissão, assistiu a nove Copas do Mundo e a uma Olimpíada. Com seu estilo inconfundível e considerado um dos cobras da radiofonia esportiva brasileira, morreu no Rio de Janeiro, de insuficiência coronariana, aos 71 anos.



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Mário Vianna

Em campo, fazia de tudo: peitava, gritava, agredia até. Era seu jeito de se fazer respeitado por todos. Mário Gonçalves Vianna tinha 1.74 de altura e pesava 90 quilos de uma vitalidade que impressionava a todos que o conheceram. Mário Vianna foi de tudo um pouco: baleiro, engraxate, jornaleiro, empacotador de velas, fiscal da guarda civil, policia especial, juiz de futebol, técnico do Palmeiras, Portuguesa e São Cristovão, e finalmente, comentarista de arbitragem na Rádio Globo.Sua excelente condição física foi adquirida na Policia Especial. E foi apitando peladas, que José Pereira Peixoto, um policial amigo, o convenceu a fazer um curso de árbitro para Liga Metropolitana onde ingressou como primeiro colocado de sua turma. Sua estréia oficial foi na partida de juvenis entre Girão de Niterói e São Cristovão. Neste jogo ele definiu o estilo que trataria de aperfeiçoar ao longo de sua carreira até torná-la uma espécie de marca pessoal: expulsou Mato Grosso, zagueiro do seu querido São Cristovão.Desde então, começou a construir sua fama de juiz rigorosíssimo, destes que não perdem as rédeas da partida, mesmo nas situações mais adversas. Como naquele Botafogo e Flamengo em General Severiano. Mário Vianna expulsou jogadores do Flamengo, os torcedores não gostaram e começaram a atirar garrafas e pedras contra ele. E Mário não teve dúvidas: devolveu tudo para as arquibancadas.Mário Vianna nunca foi homem de meias medidas. Foi responsável pela única expulsão de Domingos da Guia em onze anos de carreira. Também teve uma passagem com Nilton Santos no clássico Botafogo e Vasco. Atendendo a uma denuncia do bandeirinha, expulsou Nilton Santos que era um gentleman, por ofender o auxiliar. Mário achou estranho o caso e, nos vestiários pressionou o bandeirinha que terminou confessando que tinha mentido. Ele ficou sem graça, foi ao vestiário do Botafogo e pediu desculpas a Nilton Santos.Segundo Mário Vianna, dois jogadores lhe deram muito trabalho: Heleno de Freitas e Zizinho. Heleno era irreverente, malicioso. Um dia, no campo do Vasco, tentou comprometer a arbitragem perante o publico, entregando um disco de bolero que o próprio Mário Vianna tinha pedido para o atacante do Botafogo trazer do Chile. O disco foi entregue na pista do estádio e diante do publico. No jogo, Heleno quis comandar a arbitragem e terminou expulso de campo. Houve um jogador que, talvez por ser estrangeiro e desconhecer a fama de valentão de Mário Vianna, teve a infeliz idéia de desafiá-lo. Foi durante o jogo Itália e Suíça na Copa do Mundo de 1954. Inconformado com uma marcação do brasileiro, Boniperti partiu para cima do juiz aos empurrões. Mário Vianna aplicou-lhe um direto no queixo. Mandou que o carregassem para os vestiários e, ironicamente, disse para o massagista – Se ele tiver condições, pode voltar para o segundo tempo. Boniperti voltou bem mansinho.Durante a Copa do Mundo de 1954, no jogo Brasil x Hungria, chamou o juiz Mr. Ellis e os dirigentes da FIFA, de “camarilha de ladrões”. Foi expulso do quadro de árbitros da entidade. Quando já era comentarista de arbitragem na Rádio Globo, quase perdeu o emprego por duas vezes. Na primeira, disse que o juiz Abraham Klein, além de judeu era ladrão. Os patrocinadores do programa eram, como Klein, judeus. Outra vez, numa mesa redonda na TV, sentiu-se asfixiado pela fumaça dos cigarros que os companheiros fumavam. E Mário Vianna desabafou – “Parem de fumar, isso é um veneno, polui os pulmões”. O patrocinador do programa era a Souza Cruz, fabricante de cigarros.Como todo personagem folclórico, Mário Vianna também tinha o seu lado místico. Era espírita da linha Alan Kardec, rezava ao se deitar e se levantar. Alguns casos são conhecidos. Na Copa de 1970, era companheiro de quarto de Luis Mendes. Certa manhã ao se levantar, virou-se para o companheiro e disse – “Mendes, liga para tua casa porque seu irmão desencarnou”. Apavorado, Luis Mendes pegou o telefone, ligou para casa e ficou sabendo que seu irmão havia falecido naquela madrugada. Waldir Amaral conta que certa vez estava embarcando com Mário para São Paulo. E Mário advertiu – “Waldir esse avião vai pifar. Vamos esperar outro vôo”. – Que nada, Mário, deixe de besteiras – retrucou Waldir Amaral. Os dois embarcaram e quando o avião ia decolar, o motor enguiçou e o piloto foi obrigado a dar um cavalo de pau para não cair na baía da Guanabara. Mário Vianna foi um homem de muitas histórias. Histórias colhidas ao longo de 38 anos de Policia Especial, 25 de árbitro e 22 de comentarista. Mário faleceu no Rio de Janeiro no dia 16 de outubro de 1989.

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