Torcida do Fla também é a maior em Brasília, Goiânia e Vitória
A pesquisa Ipsos Marplan sobre as torcidas brasileiras – Parte III
seg, 22/10/12
por Emerson Gonçalves |
Essa terceira parte do post sobre a
pesquisa Ipsos Marplan traz informações igualmente interessantes, agora
de uma forma um pouco mais simples, detalhando a estratificação de cada
uma das torcidas e, satisfazendo a inúmeros pedidos, mostrando a
participação de cada clube em cada praça e também o quanto cada uma das
praças representou em relação ao trabalho, tanto em números absolutos
como proporcionais.
Talvez tivesse sido o caso de começar o
trabalho pelo seu final, para evitar uma parte dos comentários que
colocaram em dúvida a pesquisa, seus números, o instituto que a realizou
e esse blogueiro. Tabelas e gráficos precisam ser lidos e interpretados
depois da leitura do texto que os acompanham, para evitar
interpretações equivocadas.
A primeira tabela mostra a composição de cada torcida, nessa pesquisa (atenção, senhores críticos: nessa pesquisa),
de acordo com o sexo e com a classe sócio-econômica dos entrevistados.
De acordo com o Censo 2010, temos no Brasil uma proporção de sexo da
ordem de 96 homens para 100 mulheres, que vem a resultar em uma
participação percentual de 49% de homens e 51% de mulheres. Ora, essa
mesma proporção deveria manifestar-se em quaisquer agrupamentos sociais,
inclusive torcidas de futebol, reproduzindo, basicamente, a composição
populacional. Isso,naturalmente, não ocorre em muitos casos em função de
diferenças sociais e culturais, e o futebol é um bom exemplo. Apesar de
algumas leitoras discordarem, a presença masculina é maior e mais
consistente, o que leva a vermos com absoluta naturalidade uma maior
participação masculina nas torcidas.
Vejam a tabela:
A amostra total de torcedores é
dividida em 54% de homens e 46% de mulheres. Quando observamos a
composição dos torcedores corintianos, encontramos uma divisão quase
invertida: 48% de homens para 52% de mulheres. Esse é o ponto que
levantei na primeira parte desse post, levantando a hipótese dessa
discrepância ter provocado um impacto mais forte que o normal na
totalização de torcedores do time.
Ah, então a pesquisa está mesmo errada!
– já escuto gente gritando. Não, não está errada. Além de considerarmos
as margens de erro, temos que levar em consideração que uma mensuração
mais precisa dá-se no desenrolar de alguns anos e várias pesquisas. Há
alguns outros valores muito discrepantes, muito mais que os do
Corinthians, mas eles foram obtidos sobre amostras significativamente
menores e em sua maioria sobre o percentual de homens, mas, tal como
nesse caso, também são desvios ocasionais. Numa
A tabela seguinte traz a divisão de
cada torcida por faixa etária. Dois pontos chamam a atenção: a forte
presença de jovens nas três maiores torcidas e o mesmo fato em torcidas
regionais, como no caso do Sport, do Fortaleza e Ceará, Cruzeiro e (em
menor escala) Atlético Mineiro e do Atlético Paranaense e Coritiba. São
valores significativos, como mostra o exemplo cearente, com 46% dos
jovens de 10 a 17 anos torcendo para os times locais. É um evento
interessante, pois ao mesmo tempo, no correr dos anos, observamos uma
maior nacionalização das três maiores torcidas.
Reparem que a tabela mostra uma certa
equalização nas duas faixas seguintes, com destaque para o Sport entre
os torcedores de 18 a 24 anos de idade. Na outra ponta da tabela, com os
torcedores mais idosos, uma certa diferenciação para Santos, Botafogo,
Fluminense, Vasco e Náutico. Provavelmente, uma nova pesquisa nos mesmos
locais em três ou quatro anos deverá mostrar números diferentes para
esses times, principalmente o Santos, em função dos resultados dos
últimos anos e do fator Neymar, o grande diferencial do time.
A divisão por praças
Embora seja inútil, vou recomendar um ponto essencial para ler e entender essa tabela: reparem, atentamente, em três pontos:
1 – ela mostra o universo total de pessoas das 13 praças e não somente o universo de torcedores;
2 – olhem os números absolutos de cada
uma, ou seja, quantas pessoas vivem em cada uma dessas praças; lembrem
que a praça “Interior Paulista” é formada por somente sete municípios e
que todas as demais, exceto Brasília, são Regiões Metropolitanas, e não
somente o município sede da RM;
3 – observem agora o peso, a proporção
da população de cada praça sobre o total de habitantes; essa mesma
proporção foi seguida nas entrevistas.
Os resultados finais tão contestados,
mostrados na Parte I, saíram daqui. Os municípios da RM de São Paulo
entraram com 14,6 milhões de pessoas no cálculo (a pesquisa não coletou
dados em toda a RM, cuja população total chegava a 19,7 milhões de
habitantes em 2010), o que representou 29% da amostra. Já as sete
cidades do interior, com população de 2,6 milhões pelos dados do
instituto, representaram 5% do total amostrado. São números
perfeitamente razoáveis considerando que a pesquisa objetivou ter uma
visão do torcedor de futebol nas 13 maiores áreas em potencial de
consumo.
Há praças com forte predominância
rubronegra, como Vitória, com 41%, mas a participação de Vitória no
conjunto de praças é de 3%. Portanto, essa presença maciça fica diluída,
enquanto é fundamental no Rio de Janeiro, onde os 48% de preferência
pelo Flamengo impactam uma região com 19% de participação no conjunto.
Pesquisa é um retrato da realidade, mas
está mais para uma fotografia do que para um fotograma ou um frame de
vídeo. Uma única pesquisa pode ser influenciada por um, dois ou mais
fatores, que se não chegam a invalidar seus resultados, podem provocar
distorções em alguns. Por isso mesmo, sempre se considera um período
mais amplo e um maior número de pesquisas para se conhecer uma dada
realidade.
Essa pesquisa mostra um crescimento da
torcida corintiana no conjunto dessas áreas, mas isso é algo que
precisará ser conferido nos próximos anos, com novas pesquisas.
Considerando o país como um todo, a partir da análise de várias outras
pesquisas, vemos a liderança do Flamengo, seguido pelo Corinthians, que
se aproxima. Portanto, nada de anormal, nada de manipulado, nada de
favorecimento ou qualquer outra bobagem. Como já recomendei a muitos
leitores, há um grande estoque de pesquisas nesse OCE. Para acessá-las é
muito fácil, basta clicar na categoria Pesquisas – Tamanhos de
Torcidas, no lado direito do OCE.
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