Paulo Pelaipe admite dificuldades em atender
pedidos de Mano (Foto:Alexandre Vidal/Flaimagem)
A quatro dias do fechamento da janela de transferências para jogadores
vindos do exterior, o Flamengo corre contra o tempo para atender aos
pedidos de Mano Menezes. O técnico espera três ou quatro reforços de
ponta para a sequência da temporada. O departamento de futebol encontra
dificuldades, e o mercado nacional pode ser a única saída. Sem poder de
fogo para fazer extravagâncias financeiras, o clube adota o silêncio. O
diretor de futebol Paulo Pelaipe diz apenas que está no mercado e que
“trabalha duro” na busca por reforços. A tática é simples: o interesse
por qualquer jogador é guardado a sete chaves na tentativa de evitar que
clubes, empresários e jogadores façam leilão.
Nem sempre dá certo. Os nomes do zagueiro Leandro Castán, do Roma, do
atacante Emerson Sheik, do Corinthians, e do zagueiro Rhodolfo, do São
Paulo, entraram em pauta e vazaram. E nos três casos há pelo menos mais
uma equipe interessada. Enquanto fatos novos não acontecem, Paulo
Pelaipe evita se estender ao comentar o assunto.
- Estamos trabalhando. Não estou pessimista nem otimista. Só vamos
anunciar quando o jogador estiver fechado – limita-se a dizer, quase
como um mantra.
Desde que chegou ao Flamengo, há quase um mês, não foram poucas as
vezes que Mano Menezes falou da necessidade de reforços para sequência
da Copa do Brasil e do Brasileirão. Mas pouco a pouco o conformismo
passa a tomar conta do discurso do treinador. Nas entrevistas, limita-se
a dizer que tudo caminha como planejado. O ex-comandante da seleção
brasileira procura dar tempo a Pelaipe e ao vice de futebol Wallim
Vasconcellos. Mas o combinado é que serão contratados jogadores de
ponta, que cheguem para assumir um lugar no time e ajudar os menos
experientes.
Mano deixa claro que espera as contratações, mas enquanto ninguém
chega, trabalha com o que tem. O treinador tem gostado da evolução do
time. Sob o comando dele, foram três vitórias (amistoso contra o São
Paulo, ASA-AL pela Copa do Brasil e Vasco pelo Brasileiro) e um empate
com o Coritiba, também pelo Brasileirão.
A vitória por 1 a 0 sobre o Vasco, neste domingo, em Brasília, trouxe
alívio ao treinador e aos jogadores. Com o resultado, o time chegou a
nove pontos e pulou da 18ª posição no Brasileiro, na zona de
rebaixamento, para a 11ª.
Na Copa do Brasil, a situação é confortável. Depois de vencer o ASA-AL
por 2 a 0, em Arapiraca, a equipe rubro-negra faz nesta quarta-feira, em
Volta Redonda, a partida de volta. O Flamengo pode até perder por um
gol de diferença que se classifica para as oitavas de final.
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E, a propósito, mudando um pouco de assunto...
FONTE: Jornalista Lúcio de Castro - ESPN.com.br
VANDALISMO-
[Do fr. vandalisme.]
S. m.
1. Ação própria de vândalo.
2. Destruição daquilo que, por sua importância tradicional, pela antiguidade ou pela beleza, merece respeito.
Vandalismo.
Foi a palavra mais usada no último mês. Repetida infinitamente e sem
parcimônia a cada reportagem ou editorial. Vociferada pelos Jabores da
vida. Naquele nível que chega a incomodar. E a parecer coisa bem
amarrada. Cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça e quem conhece
dois tostões da nossa história sabe como essas coisas são... O foco
desviado, as repetições que têm por finalidade introjetar uma ideia ou
conceito sobre algo, a deturpação na exposição dos fatos... Linguagem e
ideologia, como sempre, caminhando lado a lado.
Foi pensando na
sistemática repetição de "vandalismo" e "vândalos" no noticiário do
último mês que me lembrei de Marilena Chaui no seu já bem distante
"Convite à Filosofia", que parece ter sido escrito ontem. "Sem deixar
que os sujeitos envolvidos nas ações se manifestem espontaneamente, a
ideologia abafa a essência dos acontecimentos (discurso das coisas),
valorizando a aparência dos acontecimentos, a interpretação (discurso
sobre as coisas)", diz a filósofa.
Tivemos de tudo no último mês.
Infiltrados, nazifascistas e ultraconservadores no meio de protestos
legítimos. Teve também gente desqualificada cometendo o pecado de
apedrejar o Itamarati, o Paço Imperial...Mas destacar isso acima de tudo
o que aconteceu nas ruas é Marilena de volta em estado bruto ("a
ideologia abafa a essência dos acontecimentos").
Tentar entender
tudo isso que acontecia e o foco do noticiário no "vandalismo" era antes
de qualquer coisa buscar a essência e semântica da tal palavra-chave.
Afinal, quem são os grandes vândalos dessa história, quais são os
grandes atos de vandalismo? Em que pese, como citado aqui, que nada
justifique uma pedra em direção ao colosso que é o Paço Imperial. Que
nada tem a ver com a essência do que está na rua.
Responder a
essa pergunta é antes de qualquer coisa resgatar o sentido completo da
palavra. Por isso esse texto começa com a citação ao velho companheiro
Aurélio: VANDALISMO- "Destruição daquilo que, por sua importância
tradicional, pela antiguidade ou pela beleza, merece respeito".
Que
achado, que descoberta... Tão simples, esteve sempre ali, repousando no
velho Aurélio! Pois vandalismo então é "destruição daquilo que, por sua
importância tradicional, pela antiguidade ou pela beleza, merece
respeito"!!! Resgatado o sentido original e completo, agora podemos
partir para tentar entender: quem são os grandes vândalos dessa
história, de quem são os grandes atos de vandalismo.
Quem são os vândalos?
Vale também ver a reunião do conselho consultivo do IPHAN,
aqui reconstituída. Os conselheiros não tiverem meias palavras sobre a obra no Maracanã: "Crime".
O
gritante caso de vandalismo vai além. Destrói, subtrai e faz uso
espúrio do dinheiro público. O seu, meu e nosso. Em um caso único de
falta de pudor: um bilhão e quebrados gastos na obra do Maracanã para no
dia seguinte ao fim entregar por menos de 600 milhões.
Vale a pena também ver o
trecho da entrevista do diretor do novo consórcio Maracanã, João Borba,
para Gabriela Moreira. Sem meias palavras, o sujeito que usa como
exemplo Wimbledon para padrão de comportamento do torcedor, diz com
todas as letras que se as obras não tivessem sido feitas pelo estado não
seria um bom negócio para o grupo que ganhou o Maracanã.
Até
porque as obras mudaram a arquitetura do estádio, e essas mudanças
possibilitaram a elitização expressa no contrato com o novo
concessionário. Se linguagem e semântica tem ideologia, a arquitetura,
como tudo, também tem. A ação entre amigos está explícita na sem pudor
entrevista, com 2m52s.
A confissão de que ganharam de presente o estádio
depois que nós pagamos a reforma. Sem o que não valeria a pena para a
turma do guardanapo e para os que emprestam jatinhos e ganham estádios.
São
tantas histórias de destruição do patrimônio público e do seu, meu e
nosso por parte do governador-voador. Quem são os vândalos, de quem é o
vandalismo? Quem autoriza entrar de helicóptero atirando na favela? Quem
autoriza entrar na Maré matando? Quem autoriza jogar bombas de gás num
hospital?
A boa matéria de Isabel Clemente na Revista Época no fim
de semana, antecipando o acerto com empreiteiras para obra do estado e o
resultado de licitações, com parte da mesma turma do Maracanã, é
impressionante. Alguma dúvida para responder a pergunta feita aqui
tantas vezes? Quem são os vândalos? Quem fez vandalismo? Procure e veja a
reportagem, vale a pena.
A história há de botar as coisas no
devido lugar. Ela sempre cuida das coisas. Mas como talvez eu não tenha
tempo de esperar, gostaria imensamente de ver os preceitos republicanos
reinstaurados no meu estado. Antes do inexorável julgamento da história,
urge a plena consciência de quem são os maiores vândalos, quem tem
feito atos de vandalismo.
E quanto ao Maracanã, não é possível
mais existir qualquer dúvida: a farra da concessão tem que ser revista,
investigada e julgada. Urgentemente. Para que possamos olhar para frente
de cabeça erguida, com a certeza de que o Brasil vai cumprir seu
destino imenso da "civilização original", de Darcy Ribeiro. Tropical,
mestiça e humanista, como sonhou o gênio da raça. Tantas vezes
representada na mistura do antigo Maracanã. E não o que está no projeto
de alguns: ser uma República dos Guardanapos.